segunda-feira, 28 de setembro de 2009

J'ai le TRAC

Jà faz quase um ano desde que fui apresentada à expressão “avoir le trac” (ter o “trac”) numa dessas aulas de civilização francesa. E somente agora dei de cara com ela de volta!

Naquela época eu ainda carregava meu dicionario português-francês pra tudo que é lado e tinha achado esse tal de “avoir le trac” a coisa mais fofinha da criação humana, mas não encontrei expressão correspondente em português. Oras, o “trac” é aquilo que nos aparece ante situações desconhecidas e geradoras de insegurança, como falar em publico ou véspera de prova.

Avoir le trac” é bastante proximo de “avoir des papillons dans le ventre”, cuja tradução seria « ter borboletas na barriga » e que equivale, por sua vez, ao nosso famoso “frio na barriga”.

Seja frio, borboletas ou trac, o que eu ando sentindo desde as ultimas 72h me tranforma numa pilha de nervos. Gente, 72h de trac NAO é brincadeira! Tem gente que em momentos de ansiedade extrema fuma milhões de carteiras de cigarro. Pois eu como, do verbo comer, e nessas ultimas 72h devo ter ingerido todas as calorias queimadas na semana passada. Sim! “Avoir le trac” é uma droga! Façamos uma greve!

Passemos aos fatos: amanhã serà um dia ultra decisivo para os meus proximos 3 anos aqui na França. É a minha “pré-rentrée”!, o que não significa exatamente "pré-re-entrada", senão um "pré" inicio das aulas. Aulas. A-U-L-A-S. Dessa vez não mais um curso de francês, mas aulas numa UNIVERSIDADE! Aulas de verdade! A razão da minha vinda até a França! O motivo pelo qual estou aqui hà mais de 1 ano e 2 meses! A idéia que germinou làaaa no auge da minha pré-adolescencia e pela qual espero desde então! A passagem transformdora de "desocupada na vida" para "estudante universitaria"!!!! E eis que amanhã - e amanhã finalmente -, tudo isso estarà là, presente, sentado comigo no banco de um anfiteatro, rodeado de centenas de outros alunos, de professoes, diretores, tutores, e outros e outros –ores que s’o de imaginar o trac jà vem de volta. Grrr! Maldito Trac!

Mas bendita pré-rentrée. E que o Senhor me acuda nas proximas 10h!

Sob o céu de Paris

A minha primeira impressão da capital francesa não poderia ter sido mais decepcionante.

Depois de meses imaginando a tão paparicada Paris, lá estavámos meus pais e eu, dentro de um ônibus parisiense, convencidos de que para o primeiro dia de turista seria sábio trocar os metrôs claustrofóbicos por um passeio à céu aberto pela cidade.

Quelle horreur.

Sentada próxima à janela, meus olhos enchiam-se de frustração conforme buscavam - sem sucesso - a Paris "bela". Não havia beleza. Não havia musicalidade.
As curvas não revelavam nada de sensacional, as ruas não tinham nenhum "quê" de elegância e durante o percurso não fomos surpreendidos por cenas de tirar o fôlego, cenas dignas de serem chamadas de parisienses.

Paris, meus amigos, não tinha nada de poético.
Paris era cinza. C-I-N-Z-A. Cor-de-chumbo!

Jamais havia eu visto uma sucessão de elementos de coloração escura como naquele dia! Estávamos no mês de julho e em pleno verão europeu o azul vivo, que deveria ser a cor do céu, só se fazia presente na minha blusa. Até o céu! Até o céu era cinza! Um cinza tão cinzento que além de feio mal deixava aparecer o sol. As ruas, as calçadas, os prédios... tudo cinzéticamente cinza. As pessoas não eram cinzas; em compensação, não sabiam vestir-se de outra cor. E fumavam, o que jà acaba com a transparência do ar. Os turistas felizmente acrescentavam um pouco de jovialidade à cidade, embora de tão numerosos causassem mil embolamentos e confusões. No final das contas, depois de rodar por ali e por acola, meus olhos de tão bombardeados por cinza, preto, escuro, jà não distinguiam mais nada pelo caminho. Tudo o que eu enxergava me parecia igual. Paris se tornara então a cidade em que de quadra em quadra se via as mesmissimas coisas: prédios iguais e pessoas perdidas em meio à pessoas apressadas, e tudo puxado pro lado mais cinza dos cinzas. Ufa!

E foi assim que em 30 min dentro de um ônibus descobri não somente que entre cinza claro e cinza escuro existe uma infinidade de variações, como também tive meu primeiro contato com Paris, a bela. Sim, a bela! Diz-se que a primeira impressão é a que fica, mas sabe como são esses ditados populares, né? é como dizer que comer banana verde dà dor de barriga. Eu, pessoalmente, ADORO banana verde. E s'o como banana verde. E cadê a dor de barriga que ainda nao veio?

Não querendo misturar Paris com bananas, felizmente minhas impressões iniciais sobre Paris não se confirmaram. Até faço uso do famoso "as aparências enganam", pois foi exatamente isso que aconteceu: enganei-me. Depois do choque inicial, descobri dia apos dia toda o encanto que a capital francesa esconde, toda a poesia retratada por artistas célebres e que reside sob a superficie er... cinzenta, digamos, da cidade. E não, quanto à isso não houve engano. Paris continua sendo tão cinza quanto era naquele dia do ônibus. A diferença é que depois de 1 ano e 2 meses contemplando diariamente a cidade, o que mudou não foi exatamente as suas cores... mas a minha maneira de apreciar o belo!