segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sob o céu de Paris

A minha primeira impressão da capital francesa não poderia ter sido mais decepcionante.

Depois de meses imaginando a tão paparicada Paris, lá estavámos meus pais e eu, dentro de um ônibus parisiense, convencidos de que para o primeiro dia de turista seria sábio trocar os metrôs claustrofóbicos por um passeio à céu aberto pela cidade.

Quelle horreur.

Sentada próxima à janela, meus olhos enchiam-se de frustração conforme buscavam - sem sucesso - a Paris "bela". Não havia beleza. Não havia musicalidade.
As curvas não revelavam nada de sensacional, as ruas não tinham nenhum "quê" de elegância e durante o percurso não fomos surpreendidos por cenas de tirar o fôlego, cenas dignas de serem chamadas de parisienses.

Paris, meus amigos, não tinha nada de poético.
Paris era cinza. C-I-N-Z-A. Cor-de-chumbo!

Jamais havia eu visto uma sucessão de elementos de coloração escura como naquele dia! Estávamos no mês de julho e em pleno verão europeu o azul vivo, que deveria ser a cor do céu, só se fazia presente na minha blusa. Até o céu! Até o céu era cinza! Um cinza tão cinzento que além de feio mal deixava aparecer o sol. As ruas, as calçadas, os prédios... tudo cinzéticamente cinza. As pessoas não eram cinzas; em compensação, não sabiam vestir-se de outra cor. E fumavam, o que jà acaba com a transparência do ar. Os turistas felizmente acrescentavam um pouco de jovialidade à cidade, embora de tão numerosos causassem mil embolamentos e confusões. No final das contas, depois de rodar por ali e por acola, meus olhos de tão bombardeados por cinza, preto, escuro, jà não distinguiam mais nada pelo caminho. Tudo o que eu enxergava me parecia igual. Paris se tornara então a cidade em que de quadra em quadra se via as mesmissimas coisas: prédios iguais e pessoas perdidas em meio à pessoas apressadas, e tudo puxado pro lado mais cinza dos cinzas. Ufa!

E foi assim que em 30 min dentro de um ônibus descobri não somente que entre cinza claro e cinza escuro existe uma infinidade de variações, como também tive meu primeiro contato com Paris, a bela. Sim, a bela! Diz-se que a primeira impressão é a que fica, mas sabe como são esses ditados populares, né? é como dizer que comer banana verde dà dor de barriga. Eu, pessoalmente, ADORO banana verde. E s'o como banana verde. E cadê a dor de barriga que ainda nao veio?

Não querendo misturar Paris com bananas, felizmente minhas impressões iniciais sobre Paris não se confirmaram. Até faço uso do famoso "as aparências enganam", pois foi exatamente isso que aconteceu: enganei-me. Depois do choque inicial, descobri dia apos dia toda o encanto que a capital francesa esconde, toda a poesia retratada por artistas célebres e que reside sob a superficie er... cinzenta, digamos, da cidade. E não, quanto à isso não houve engano. Paris continua sendo tão cinza quanto era naquele dia do ônibus. A diferença é que depois de 1 ano e 2 meses contemplando diariamente a cidade, o que mudou não foi exatamente as suas cores... mas a minha maneira de apreciar o belo!

3 comentários:

  1. Lindamente cinza.... cheinha de nuances..cheinha de surpresas..pouco importa cinza, azul, verde ou amarelo sempre Linda!!!

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  2. Pois, Fezúda, quando ai cheguei, com um pouquinho de frio e tempo nublado, não senti o quão cinzenta achastes Paris. Senti seu charme, seus rococós, etc....Quando andei pela Campos Elíseos e depois subi no Arco do Triunfo e vi aquelas 7 avenidas que morrem ou nascem ali, que minha vista perdeu de vista a vista lá de cima, chorei!Até já esqueci a hora do rush dentro do metrô, com a bolsa enfiada na cabeça, perto do pescoço, com odores nada confiáveis, ar raro, mas uma música linda tocada num velho violino por um ancião...foi lindo. Ah. já fosses ver o tric-tric, ou estas esperando por mim?De motorhome é melhor....Meus parabéns: escreves que nem gente grande, grande mulher, adolescente só na idade.Bjs. carinhosos e saudosos da Su, fuiiiiii

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  3. Não conheço Paris. Embora já tenha ouvido comentários de turistas a respeito do encanto que é esta cidade, sua descrição me baixou o astral de tal forma que acho que vou tomar um tranquilizante. Mas o que vem ao caso aqui, é mesmo sua desenvoltura como cronista e a forma aguda de observar: a capacidade de abarcar tantas impressões numa só olhada e transmití-las nun estilo inteligente e vivaz. Bons estudos, menina!!!

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