terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Primeiro dia de neve

Peço desculpas pela minha ausência, mas com a faculdade a vida ficou mais corrida.
Para me redimir, deixo aqui um video feito no primeiro dia de neve em Paris, com direito à batalhas de bolas de neve na faculdade - e mesmo entre professores!


Interessante como a neve faz todo mundo voltar a ser criança!

Dia de neve na universidade


BOAS FESTAS!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Le Metropolitain



Se a vida na França representasse um livro, eu diria que um de seus capitulos seria sobre o metrô parisiense. Um capitulo inteiro dedicado unicamente à esse meio de transporte que, lhes garanto, de banal s'o tem a aparência. Uma simples voltinha de metrô pode desencadear situações formidaveis!

Ganha-pão de artistas e de desempregados, solução para depressivos suicidas, o inferno na terra em momentos de forte afluência... eis diferentes definições para o meio de transporte preferido entre os parisienses. Ao total são 16 linhas de metrô, 300 estações e obras de ampliação em andamento. Vale lembrar que como cidade cosmopolita, Paris é dotada de um excelente sistema de transportes em comum que vai desde ônibus a RERs e que ajusta-se as mais diferentes finalidades. Em outras palavras, ter carro em Paris é totalmente dipensàvel.


Segundo a nossa amiga Wikipedia, 3,9 mihões de pessoas circulam diariamente pelos subterrâneos de Paris - entre residentes, turistas e tabalhadores de outras cidades. O intrigante, no entanto, não exprime-se em numeros. Para quem està acostumado ao calor humano, um trajeto de metrô pode revelar-se altamente esclarecedor quanto a "frieza" parisiense. Explico-me melhor: basta entrar em um vagão qualquer para dar-se conta de que, estando vazio ou cheio, ali s'o existe uma unica pessoa: você. Nem pense em buscar com quem trocar comentarios sobre o tempo e todos aqueles papos sem sentido. Nem mesmo sobre politica, tão queridinha dos franceses.



Cada passageiro que ali entra leva consigo seu mundo, isto é, seu livro, seu jornal, seu mp3 ou até mesmo seu celular. Hà quem leve ainda seu poodle confortavelmente acomodado dentro da bolsa! Enfim, prepare-se para ouvir ligações inteiras cheias de confidências e detalhes absurdos, para escutar o ultimo rap das paradas entoando pelo vagão inteiro, mas jamais, em hipotése alguma, pense em dizer "Bonjour" ao colega ao lado. Fixe o olhar em um ponto qualquer e desconecte-se do mundo à sua volta. Eis, basicamente, o modo de utilização dos metrôs!

O universo subterrâneo é curioso, muito curioso, sobretudo quando a indiferença dos franceses contrasta fortemente com conjuntos tocando ao vivo entre os passageiros. Musica e cara fechada definitivamente não combinam; se fosse no Brasil, là se formava uma rodinha de samba. Certa vez uma senhora interrompeu a performance de uma bandinha simpàtica porque ela, a madame, não conseguia conversar no telefone. Incidentes e acidentes acontecem a toda hora e são anunciados por todas as estações, logo, se na linha 10 hà alguma perturbação, quem estiver na linha 7 jà o sabe. "Passageiro doente" é suave, "Acidente grave com passageiro" jà não é tanto e "Passageiro sobre a via" deixa grandes duvidas. Um dia desses anunciaram um cachorro sobre a via; me pergunto se seria um poodle pedigree, jà que em Paris praticamente não existem vira-latas.


Para ir até a faculdade pego uma linha que durante o caminho sofre uma bifurcação - a linha 13. Chegando na ultima estação antes de dividir-se, uma gravação recorda aos passageiros a direção do trem. Relato a vocês um episodio recente em que o motorista do metrô resolveu dispensar a gravação habitual e apropriar-se, ele mesmo, do microfone:

- Mesdames et Messieurs, gostaria de lembrà-los que este trem tem como destino St. Denis Université, que eu sou divorciado e que meu carro està à venda.

Olho para os lados, estranhando o ocorrido. Os outros não manifestam qualquer alteração comportamental, salvo uma jovem que parecia sorrir bem de canto por tràs das paginas do seu livro.

- Mesdames et Messieurs, apertem seus cintos e apaguem os seus cigarros.
Faremos nosso percurso à cavalo. Pocoto Pocoto Pocoto Pocoto Pocoto...


Reações positivas tomam conta do metrô; a maioria dos passageiros interrompe suas leituras e demais atividades individualistas para prestar atenção nos comentarios ousados do motorista. Sorrisos estampados em quase todas as faces, risos "envergonhados"... cena digna de uma foto! Emocionante!

- Mesdames et Messieurs! Chegamos a parada final, Tahiti, parada final! Todos os viajantes devem desembarcar! Espero que não tenham esquecido seus trajes de banho. E boas férias!

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Ter saido do metrô rodeada de expressões tão felizes foi, de longe, tão inédito e inacreditàvel quanto ser informada de que uma vaca sobre a via perturba a circulação.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

J'ai le TRAC

Jà faz quase um ano desde que fui apresentada à expressão “avoir le trac” (ter o “trac”) numa dessas aulas de civilização francesa. E somente agora dei de cara com ela de volta!

Naquela época eu ainda carregava meu dicionario português-francês pra tudo que é lado e tinha achado esse tal de “avoir le trac” a coisa mais fofinha da criação humana, mas não encontrei expressão correspondente em português. Oras, o “trac” é aquilo que nos aparece ante situações desconhecidas e geradoras de insegurança, como falar em publico ou véspera de prova.

Avoir le trac” é bastante proximo de “avoir des papillons dans le ventre”, cuja tradução seria « ter borboletas na barriga » e que equivale, por sua vez, ao nosso famoso “frio na barriga”.

Seja frio, borboletas ou trac, o que eu ando sentindo desde as ultimas 72h me tranforma numa pilha de nervos. Gente, 72h de trac NAO é brincadeira! Tem gente que em momentos de ansiedade extrema fuma milhões de carteiras de cigarro. Pois eu como, do verbo comer, e nessas ultimas 72h devo ter ingerido todas as calorias queimadas na semana passada. Sim! “Avoir le trac” é uma droga! Façamos uma greve!

Passemos aos fatos: amanhã serà um dia ultra decisivo para os meus proximos 3 anos aqui na França. É a minha “pré-rentrée”!, o que não significa exatamente "pré-re-entrada", senão um "pré" inicio das aulas. Aulas. A-U-L-A-S. Dessa vez não mais um curso de francês, mas aulas numa UNIVERSIDADE! Aulas de verdade! A razão da minha vinda até a França! O motivo pelo qual estou aqui hà mais de 1 ano e 2 meses! A idéia que germinou làaaa no auge da minha pré-adolescencia e pela qual espero desde então! A passagem transformdora de "desocupada na vida" para "estudante universitaria"!!!! E eis que amanhã - e amanhã finalmente -, tudo isso estarà là, presente, sentado comigo no banco de um anfiteatro, rodeado de centenas de outros alunos, de professoes, diretores, tutores, e outros e outros –ores que s’o de imaginar o trac jà vem de volta. Grrr! Maldito Trac!

Mas bendita pré-rentrée. E que o Senhor me acuda nas proximas 10h!

Sob o céu de Paris

A minha primeira impressão da capital francesa não poderia ter sido mais decepcionante.

Depois de meses imaginando a tão paparicada Paris, lá estavámos meus pais e eu, dentro de um ônibus parisiense, convencidos de que para o primeiro dia de turista seria sábio trocar os metrôs claustrofóbicos por um passeio à céu aberto pela cidade.

Quelle horreur.

Sentada próxima à janela, meus olhos enchiam-se de frustração conforme buscavam - sem sucesso - a Paris "bela". Não havia beleza. Não havia musicalidade.
As curvas não revelavam nada de sensacional, as ruas não tinham nenhum "quê" de elegância e durante o percurso não fomos surpreendidos por cenas de tirar o fôlego, cenas dignas de serem chamadas de parisienses.

Paris, meus amigos, não tinha nada de poético.
Paris era cinza. C-I-N-Z-A. Cor-de-chumbo!

Jamais havia eu visto uma sucessão de elementos de coloração escura como naquele dia! Estávamos no mês de julho e em pleno verão europeu o azul vivo, que deveria ser a cor do céu, só se fazia presente na minha blusa. Até o céu! Até o céu era cinza! Um cinza tão cinzento que além de feio mal deixava aparecer o sol. As ruas, as calçadas, os prédios... tudo cinzéticamente cinza. As pessoas não eram cinzas; em compensação, não sabiam vestir-se de outra cor. E fumavam, o que jà acaba com a transparência do ar. Os turistas felizmente acrescentavam um pouco de jovialidade à cidade, embora de tão numerosos causassem mil embolamentos e confusões. No final das contas, depois de rodar por ali e por acola, meus olhos de tão bombardeados por cinza, preto, escuro, jà não distinguiam mais nada pelo caminho. Tudo o que eu enxergava me parecia igual. Paris se tornara então a cidade em que de quadra em quadra se via as mesmissimas coisas: prédios iguais e pessoas perdidas em meio à pessoas apressadas, e tudo puxado pro lado mais cinza dos cinzas. Ufa!

E foi assim que em 30 min dentro de um ônibus descobri não somente que entre cinza claro e cinza escuro existe uma infinidade de variações, como também tive meu primeiro contato com Paris, a bela. Sim, a bela! Diz-se que a primeira impressão é a que fica, mas sabe como são esses ditados populares, né? é como dizer que comer banana verde dà dor de barriga. Eu, pessoalmente, ADORO banana verde. E s'o como banana verde. E cadê a dor de barriga que ainda nao veio?

Não querendo misturar Paris com bananas, felizmente minhas impressões iniciais sobre Paris não se confirmaram. Até faço uso do famoso "as aparências enganam", pois foi exatamente isso que aconteceu: enganei-me. Depois do choque inicial, descobri dia apos dia toda o encanto que a capital francesa esconde, toda a poesia retratada por artistas célebres e que reside sob a superficie er... cinzenta, digamos, da cidade. E não, quanto à isso não houve engano. Paris continua sendo tão cinza quanto era naquele dia do ônibus. A diferença é que depois de 1 ano e 2 meses contemplando diariamente a cidade, o que mudou não foi exatamente as suas cores... mas a minha maneira de apreciar o belo!