terça-feira, 13 de outubro de 2009

Le Metropolitain



Se a vida na França representasse um livro, eu diria que um de seus capitulos seria sobre o metrô parisiense. Um capitulo inteiro dedicado unicamente à esse meio de transporte que, lhes garanto, de banal s'o tem a aparência. Uma simples voltinha de metrô pode desencadear situações formidaveis!

Ganha-pão de artistas e de desempregados, solução para depressivos suicidas, o inferno na terra em momentos de forte afluência... eis diferentes definições para o meio de transporte preferido entre os parisienses. Ao total são 16 linhas de metrô, 300 estações e obras de ampliação em andamento. Vale lembrar que como cidade cosmopolita, Paris é dotada de um excelente sistema de transportes em comum que vai desde ônibus a RERs e que ajusta-se as mais diferentes finalidades. Em outras palavras, ter carro em Paris é totalmente dipensàvel.


Segundo a nossa amiga Wikipedia, 3,9 mihões de pessoas circulam diariamente pelos subterrâneos de Paris - entre residentes, turistas e tabalhadores de outras cidades. O intrigante, no entanto, não exprime-se em numeros. Para quem està acostumado ao calor humano, um trajeto de metrô pode revelar-se altamente esclarecedor quanto a "frieza" parisiense. Explico-me melhor: basta entrar em um vagão qualquer para dar-se conta de que, estando vazio ou cheio, ali s'o existe uma unica pessoa: você. Nem pense em buscar com quem trocar comentarios sobre o tempo e todos aqueles papos sem sentido. Nem mesmo sobre politica, tão queridinha dos franceses.



Cada passageiro que ali entra leva consigo seu mundo, isto é, seu livro, seu jornal, seu mp3 ou até mesmo seu celular. Hà quem leve ainda seu poodle confortavelmente acomodado dentro da bolsa! Enfim, prepare-se para ouvir ligações inteiras cheias de confidências e detalhes absurdos, para escutar o ultimo rap das paradas entoando pelo vagão inteiro, mas jamais, em hipotése alguma, pense em dizer "Bonjour" ao colega ao lado. Fixe o olhar em um ponto qualquer e desconecte-se do mundo à sua volta. Eis, basicamente, o modo de utilização dos metrôs!

O universo subterrâneo é curioso, muito curioso, sobretudo quando a indiferença dos franceses contrasta fortemente com conjuntos tocando ao vivo entre os passageiros. Musica e cara fechada definitivamente não combinam; se fosse no Brasil, là se formava uma rodinha de samba. Certa vez uma senhora interrompeu a performance de uma bandinha simpàtica porque ela, a madame, não conseguia conversar no telefone. Incidentes e acidentes acontecem a toda hora e são anunciados por todas as estações, logo, se na linha 10 hà alguma perturbação, quem estiver na linha 7 jà o sabe. "Passageiro doente" é suave, "Acidente grave com passageiro" jà não é tanto e "Passageiro sobre a via" deixa grandes duvidas. Um dia desses anunciaram um cachorro sobre a via; me pergunto se seria um poodle pedigree, jà que em Paris praticamente não existem vira-latas.


Para ir até a faculdade pego uma linha que durante o caminho sofre uma bifurcação - a linha 13. Chegando na ultima estação antes de dividir-se, uma gravação recorda aos passageiros a direção do trem. Relato a vocês um episodio recente em que o motorista do metrô resolveu dispensar a gravação habitual e apropriar-se, ele mesmo, do microfone:

- Mesdames et Messieurs, gostaria de lembrà-los que este trem tem como destino St. Denis Université, que eu sou divorciado e que meu carro està à venda.

Olho para os lados, estranhando o ocorrido. Os outros não manifestam qualquer alteração comportamental, salvo uma jovem que parecia sorrir bem de canto por tràs das paginas do seu livro.

- Mesdames et Messieurs, apertem seus cintos e apaguem os seus cigarros.
Faremos nosso percurso à cavalo. Pocoto Pocoto Pocoto Pocoto Pocoto...


Reações positivas tomam conta do metrô; a maioria dos passageiros interrompe suas leituras e demais atividades individualistas para prestar atenção nos comentarios ousados do motorista. Sorrisos estampados em quase todas as faces, risos "envergonhados"... cena digna de uma foto! Emocionante!

- Mesdames et Messieurs! Chegamos a parada final, Tahiti, parada final! Todos os viajantes devem desembarcar! Espero que não tenham esquecido seus trajes de banho. E boas férias!

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Ter saido do metrô rodeada de expressões tão felizes foi, de longe, tão inédito e inacreditàvel quanto ser informada de que uma vaca sobre a via perturba a circulação.

5 comentários:

  1. Adorei esse novo post! Super descontraído! E fiquei imaginando esta mesma situação aqui no Brasil. As reações seriam bem diversas, mas, com certeza, todas envolveriam alguma manifestação de divertimento e muitas gargalhadas! :)

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  2. Orgulho imenso de ser tua amiga!Já havia postado um comentário, mas a tal da internet caiu e perdi tudo. Só porque fui arrumar a palavra "caipirinha", que havia escrito errado!Mas, mais ou menos era assim:Como não sei escrever isso em francês, faço em inglês: "OH, my Lord, how she writes so good,so well, so beautiful, ...!Parafraseando tua irmã, a quase japonesa, adorei a tua desenvoltura em escrever e discorrer sobre esse tema, que já havia te falado, mas estava cercada naquele momento por brasileiros e outros latinos, portanto longe do olhar fixo em nada.Com a certeza de nos encontrarmos e mais discorrermos sobre o assunto, pois quem aqui chegou? TUA MAMI, DODO.SU, A QUE FUIIIIIIIII.

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  3. Olá, Fernanda. Tudo bem, filha?
    Também tenho acompanhado tuas crônicas e concordo inteiramente com tuas observações. Não só em Paris, mas em outras cidades, como Madri, Boston, etc, esse comportamento se repete. Vejo que em outros países existe uma real dificuldade de olhar, de ver, de se aproximar do outro. Lembras do que aconteceu com tua Tia Pia, no metrô, em Nova York? Pensei que estas seriam caracteristicas das grandes metrópoles, entretanto não observei nada que se assemelhasse em São Paulo, com seus mais de 11 milhões de habitantes. Nos metrôs e estações paulistas encontramos alegria e diversividade.Bandas e músicos solitários. Malabaristas, vendedores ambulantes e batedores de carteiras. Gente rindo, gente cantando alto e desafinado o que toca no seu mp3. Gente tocando caixa de fósforo ou ouvindo seu time jogar e gritar gollll. Outros oferecendo seu lugar para idosos ou para moças bonitas.E aqui também escutamos xingamentos variados dos que foram empurrados, pisados ou molestados por passageiros mais ousados. Aqui no Brasil, no metrô há vida, há emoção, há proximidade entre as pessoas. Quer divertimento? Vai passear de metrô em São Paulo...
    beijão
    Dolores

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  4. Olá Fernandinha!
    Sou a Ana,(tia do Pedro/André e Davi Recamonde) de Fortaleza.
    Achei super bacana a sua crônica do metrô parisiense e imaginei como eu tb me sentiria
    em tal situacão. Vc realmente é uma garota
    admirável e como cidadã do mundo, conforme vc
    mesma se descreve, saberá sempre se safar em
    quaisquer circunstâncias. Parabéns pelo seu desbravamento.
    Boa sorte pra vc.
    Bj., Ana

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  5. QUERO. IR. PRA. PARIS. AGORA!!!

    Só pelo metrô já vale a pena!

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